Invasões Francesas - Combate de Foz de Arouce ( Março 1811)
Invasões Francesas - Combate de Foz de Arouce
Embora o tempo nos não permita alongar-nos tanto, quanto, para sermos explícitos, o exigia o assunto, não devemos deixar passar sem uma singela comemoração esta data memorável do concelho da Lousã. Vai fazer precisamente 209 anos em Março que o exército francês de Massena atravessou o concelho, que, na Lousã esteve o quartel general de Leão Wellington ( no Palacio da Viscondessa do Espinhal ) e que se deu o combate de Foz de Arouce.
Se aos lousanenses de hoje tais factos podem ser indiferentes não o sentiram certamente assim os seus antepassados que andavam fugidos dos lares e no constante risco de perder a vida e haveres. A 27 de setembro tinha sido dada a batalha do Bussaco, e não obstante ficarem vencidos, os franceses continuam avançando sobre Lisboa, espalhando, com a fama das anteriores invasões, o terror por toda a região. Wellington prudente e receoso, foi sempre retirando e obrigando antes a incendiar tudo quanto pudesse servir ao exército invasor e que não pudesse ser transportado pelas populações, foragidas, até se encerrar e fortificar nas célebres linhas de Torres, obra colossal de engenharia com que os franceses não contavam e contra a qual foram infrutíferas todas as suas tentativas. Começando porém Massena a ver insustentável a sua posição por falta de recursos de toda a espécie, resolveu retirar para o norte onde se não pusera em prática o devastador sistema de Wellington, havendo portanto terras e campos fartos e celeiros recheados para abastecer o seu exército até à chegada dos reforços que esperava. Começou esse movimento a 4 de março, e de 5 a 11 reuniu o seu exército em Pombal com excepção das tropas de Regnier e Loison (o celebre Maneta) que se dirigiram para o Espinhal, para até certo ponto protegerem o flanco e conseguirem ao grosso do exército uma marcha mais desafogada. Os aliados saíram logo das linhas e começaram uma incomoda perseguição que obrigava o inimigo a combater todos os dias e nem sempre em favoráveis condições.Tentando depois os franceses dirigir-se a Coimbra mandou Massena defender um desfiladeiro entre Pombal e Redinha (12 de março) para proteger o avanço, mas sendo aquela força batida em renhido combate, bem como outra que fora reconhecer Coimbra e encontrara a ponte cortada, teve de desistir daquele caminho e viu-se obrigado a seguir o que lhe restava aberto entre o Mondego e o Zezere por Miranda e Ponte de Mucela descendo por Mucela e Moura Morta (Rio Alva) antiga Estrada Real mas terrenos que embora ásperos e sem bons caminhos lhe ofereciam no entanto boas posições para ir cobrindo a sua retirada. Percebendo Wellington a intenção do inimigo mandou a divisão de Picton flanqueá-lo pela direita, o que obrigou Massena a abandonar Condeixa que incendiou e retirar sobre Casal Novo. Em 13 e 14 houve combates em todo o caminho sendo o mais importante o da Fonte coberta na noite de 14 e em que o próprio Massena esteve em riscos de ser feito prisioneiro com seu estado maior tendo de sair apressadamente pelas traseiras da casa onde se preparava um jantar que não chegou a saborear.
Desde este momento o grande Massena não pensou noutra coisa do que pôr-se a salvo o mais depressa possível, por isso incendiou Miranda onde estava uma grande parte do seu exército, mandou apressar a retirada e ele mesmo seguido de escolta tratou de ir adiante reconhecer a importante passagem sobre o Alva, que encontrou cortado, mas onde activamente fez improvisar uma ponte. Massena ordenara no entanto aos seus subordinados que ainda nessa noite atravessassem o Ceira inutilizando alguma artilharia avariada e outros carros que mais embaraçavam a marcha. Ora é sabido, que o grande general Ney, o bravo das retiradas, que vinha com Massena, não suportava de boamente o mando deste, havendo sempre divergências, nas ordens e respectiva execução. Foi o que sucedeu mais uma vez, e desta com terríveis consequências para os franceses. Ney desobedeceu, e em vez de passar tudo para a margem direita, deixou ficar na esquerda 10 ou 12 batalhões, uma brigada de cavalaria e algumas peças. De noite os aliados, que torneando os inimigos se tinham já estabelecido na Lousã, fizeram os seus reconhecimentos e quando começou a raiar a madrugada fizeram alguns tiros. A tropa francesa, alarmada, rompeu fogo um tanto desordenadamente e assim continuou por toda a manhã, porque estando um nevoeiro cerrado se estabeleceu a confusão. Além disto parece que algumas tropas aliadas também atravessaram mais acima o rio, de modo que os franceses sentiam-se molestados, sem saberem bem donde eram agredidos. Os franceses da margem esquerda resolveram então ir juntar-se ao exército da margem direita, mas sendo impossível fazer passar rapidamente como era mister, pela estreita ponte tão grande massa de gente e cavalos, lembraram-se alguns regimentos de passar o rio a vau, um pouco acima da ponte na zona da Videira. Ora sucedeu que não tendo os franceses reconhecido o rio, que em razão das constantes chuvas desse ano ia muito engrossado, com a precipitação e confusão muitos homens e cavalos, morreram afogados, acrescendo ainda para cúmulo que tendo-se desviado um pouco para o lado donde estavam os aliados que haviam já repelido para procurar o melhor vau e indo assim ocupar o lugar destes, foram com o nevoeiro tomados como inimigos pelos próprios franceses da outra margem que romperam em feroz tiroteio. Os franceses da margem esquerda por sua vez julgaram ser agredidos pelos aliados que tivessem mudado de posição. Este quiproquo durou quase toda a tarde e só quando uma força se resolveu a atacar os que tinha diante à baioneta é que reconheceram o terrível engano.Discordam todos os historiadores sobre o número de perdas havidas no combate de Foz de Arouce pois os próprios que nele entraram mais consideram aquela acção como um episódio da longa batalha, que se desenvolveu de 11 a 18 de março e que teve por campo todo o espaço entre Pombal e a Ponte de Mucela, e portanto não lhe assinalaram princípio nem fim que bem o defina e faça jogar os seus testemunhos com as partes oficiais. Além disto o desconhecimento que então havia da topografia desta região, induziu-os a afirmações inverosímeis e aos graves erros nas operações que talvez por decoro encobriram. O que porém é positivo é que, se o número de vidas perdidas não foi muito considerável, pelo menos o efeito moral para os franceses foi extraordinário. O regimento n.º 39, um dos que passou o rio a vau perdeu o seu comandante e a sua bandeira.
Foz de Arouce foi um dos primeiros revezes que sofreu o bravo Ney que já nas vésperas, vendo a impossibilidade de se mover com a rapidez necessária, seguido de todas aquelas bagagens, carregado com o vergonhoso despojo dos saques que havia feito, mandava pegar fogo a grande parte, ordem que o próprio Massena não teve coragem para suster. No combate de Foz de Arouce entraram dos portugueses, caçadores 1, 3 e 4 e infantaria 3 15 e 21 distinguindo-se os coronéis Jorge Elder oriundo do Barreiro e D. Luiz do Rego. Os franceses depois de se acharem todos na margem direita cortaram o arco grande da ponte o que não evitou continuarem a ser perseguidos de perto pelos aliados que lhe iam quase diariamente fazendo prudentes ataques de flanco, seguindo pela serra da Moita (18 de março) Celorico (26 de março), Guarda e Sabugal. No dia 5 entrou finalmente Massena em território espanhol, deixando os invasores definitivamente o nosso país, que havia 3 anos era pisado sem cerimónia pela hostes de Napoleão. Os aliados seguiram-nos sempre através da Espanha, até que ao penetrarem no solo francês, em 1814, se fez a paz geral permitindo com a queda de Roma parte à Europa de respirar livremente.
Se aos lousanenses de hoje tais factos podem ser indiferentes não o sentiram certamente assim os seus antepassados que andavam fugidos dos lares e no constante risco de perder a vida e haveres. A 27 de setembro tinha sido dada a batalha do Bussaco, e não obstante ficarem vencidos, os franceses continuam avançando sobre Lisboa, espalhando, com a fama das anteriores invasões, o terror por toda a região. Wellington prudente e receoso, foi sempre retirando e obrigando antes a incendiar tudo quanto pudesse servir ao exército invasor e que não pudesse ser transportado pelas populações, foragidas, até se encerrar e fortificar nas célebres linhas de Torres, obra colossal de engenharia com que os franceses não contavam e contra a qual foram infrutíferas todas as suas tentativas. Começando porém Massena a ver insustentável a sua posição por falta de recursos de toda a espécie, resolveu retirar para o norte onde se não pusera em prática o devastador sistema de Wellington, havendo portanto terras e campos fartos e celeiros recheados para abastecer o seu exército até à chegada dos reforços que esperava. Começou esse movimento a 4 de março, e de 5 a 11 reuniu o seu exército em Pombal com excepção das tropas de Regnier e Loison (o celebre Maneta) que se dirigiram para o Espinhal, para até certo ponto protegerem o flanco e conseguirem ao grosso do exército uma marcha mais desafogada. Os aliados saíram logo das linhas e começaram uma incomoda perseguição que obrigava o inimigo a combater todos os dias e nem sempre em favoráveis condições.Tentando depois os franceses dirigir-se a Coimbra mandou Massena defender um desfiladeiro entre Pombal e Redinha (12 de março) para proteger o avanço, mas sendo aquela força batida em renhido combate, bem como outra que fora reconhecer Coimbra e encontrara a ponte cortada, teve de desistir daquele caminho e viu-se obrigado a seguir o que lhe restava aberto entre o Mondego e o Zezere por Miranda e Ponte de Mucela descendo por Mucela e Moura Morta (Rio Alva) antiga Estrada Real mas terrenos que embora ásperos e sem bons caminhos lhe ofereciam no entanto boas posições para ir cobrindo a sua retirada. Percebendo Wellington a intenção do inimigo mandou a divisão de Picton flanqueá-lo pela direita, o que obrigou Massena a abandonar Condeixa que incendiou e retirar sobre Casal Novo. Em 13 e 14 houve combates em todo o caminho sendo o mais importante o da Fonte coberta na noite de 14 e em que o próprio Massena esteve em riscos de ser feito prisioneiro com seu estado maior tendo de sair apressadamente pelas traseiras da casa onde se preparava um jantar que não chegou a saborear.
Desde este momento o grande Massena não pensou noutra coisa do que pôr-se a salvo o mais depressa possível, por isso incendiou Miranda onde estava uma grande parte do seu exército, mandou apressar a retirada e ele mesmo seguido de escolta tratou de ir adiante reconhecer a importante passagem sobre o Alva, que encontrou cortado, mas onde activamente fez improvisar uma ponte. Massena ordenara no entanto aos seus subordinados que ainda nessa noite atravessassem o Ceira inutilizando alguma artilharia avariada e outros carros que mais embaraçavam a marcha. Ora é sabido, que o grande general Ney, o bravo das retiradas, que vinha com Massena, não suportava de boamente o mando deste, havendo sempre divergências, nas ordens e respectiva execução. Foi o que sucedeu mais uma vez, e desta com terríveis consequências para os franceses. Ney desobedeceu, e em vez de passar tudo para a margem direita, deixou ficar na esquerda 10 ou 12 batalhões, uma brigada de cavalaria e algumas peças. De noite os aliados, que torneando os inimigos se tinham já estabelecido na Lousã, fizeram os seus reconhecimentos e quando começou a raiar a madrugada fizeram alguns tiros. A tropa francesa, alarmada, rompeu fogo um tanto desordenadamente e assim continuou por toda a manhã, porque estando um nevoeiro cerrado se estabeleceu a confusão. Além disto parece que algumas tropas aliadas também atravessaram mais acima o rio, de modo que os franceses sentiam-se molestados, sem saberem bem donde eram agredidos. Os franceses da margem esquerda resolveram então ir juntar-se ao exército da margem direita, mas sendo impossível fazer passar rapidamente como era mister, pela estreita ponte tão grande massa de gente e cavalos, lembraram-se alguns regimentos de passar o rio a vau, um pouco acima da ponte na zona da Videira. Ora sucedeu que não tendo os franceses reconhecido o rio, que em razão das constantes chuvas desse ano ia muito engrossado, com a precipitação e confusão muitos homens e cavalos, morreram afogados, acrescendo ainda para cúmulo que tendo-se desviado um pouco para o lado donde estavam os aliados que haviam já repelido para procurar o melhor vau e indo assim ocupar o lugar destes, foram com o nevoeiro tomados como inimigos pelos próprios franceses da outra margem que romperam em feroz tiroteio. Os franceses da margem esquerda por sua vez julgaram ser agredidos pelos aliados que tivessem mudado de posição. Este quiproquo durou quase toda a tarde e só quando uma força se resolveu a atacar os que tinha diante à baioneta é que reconheceram o terrível engano.Discordam todos os historiadores sobre o número de perdas havidas no combate de Foz de Arouce pois os próprios que nele entraram mais consideram aquela acção como um episódio da longa batalha, que se desenvolveu de 11 a 18 de março e que teve por campo todo o espaço entre Pombal e a Ponte de Mucela, e portanto não lhe assinalaram princípio nem fim que bem o defina e faça jogar os seus testemunhos com as partes oficiais. Além disto o desconhecimento que então havia da topografia desta região, induziu-os a afirmações inverosímeis e aos graves erros nas operações que talvez por decoro encobriram. O que porém é positivo é que, se o número de vidas perdidas não foi muito considerável, pelo menos o efeito moral para os franceses foi extraordinário. O regimento n.º 39, um dos que passou o rio a vau perdeu o seu comandante e a sua bandeira.
Foz de Arouce foi um dos primeiros revezes que sofreu o bravo Ney que já nas vésperas, vendo a impossibilidade de se mover com a rapidez necessária, seguido de todas aquelas bagagens, carregado com o vergonhoso despojo dos saques que havia feito, mandava pegar fogo a grande parte, ordem que o próprio Massena não teve coragem para suster. No combate de Foz de Arouce entraram dos portugueses, caçadores 1, 3 e 4 e infantaria 3 15 e 21 distinguindo-se os coronéis Jorge Elder oriundo do Barreiro e D. Luiz do Rego. Os franceses depois de se acharem todos na margem direita cortaram o arco grande da ponte o que não evitou continuarem a ser perseguidos de perto pelos aliados que lhe iam quase diariamente fazendo prudentes ataques de flanco, seguindo pela serra da Moita (18 de março) Celorico (26 de março), Guarda e Sabugal. No dia 5 entrou finalmente Massena em território espanhol, deixando os invasores definitivamente o nosso país, que havia 3 anos era pisado sem cerimónia pela hostes de Napoleão. Os aliados seguiram-nos sempre através da Espanha, até que ao penetrarem no solo francês, em 1814, se fez a paz geral permitindo com a queda de Roma parte à Europa de respirar livremente.
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