segunda-feira, julho 13, 2009

Doentes ficaram sem médico no centro de saúde

Presidente da Câmara fala de situação "terceiro-mundista", e aponta responsabilidades a ARS, que garante normalização do serviço hoje.

«Tenho 65 anos e isto nunca aconteceu em Vila Nova de Poiares. Sempre tivemos médicos e assistência garantida e estamos, este mês, no terceiro turno sem médicos no Centro de Saúde. Isto não é possível, mas está a acontecer». Palavras de Jaime Soares, que, ontem ao final do dia, em Itália, onde está a participar num encontro de municípios de montanha, deu conta ao Diário de Coimbra da situação que se está a viver no centro de saúde do seu concelho.

«Estou com a alma e o coração amargurados», afirma o autarca, que não conseguiu, em contacto com a directora do Centro de Saúde (que se encontra de férias) encontrar justificação para a «ausência de médicos e de enfermeiros que, no centro de saúde, assegurem a necessária assistência às populações».

Jaime Soares garantiu que, particularmente ontem, foram muitos os contactos que manteve com os Bombeiros de Vila Nova de Poiares - corporação da qual é comandante - e que lhe deram conta da informação veiculada por parte do centro de saúde, no sentido de canalizarem de imediato os doentes para os hospitais de Coimbra, uma vez que não havia, no centro de saúde, possibilidade de assistência, dada a ausência de pessoal médico.

«Não há médicos para assistir os doentes». Foi esta a informação que ontem foi repetidamente transmitida ao autarca de Poiares, em Itália, que considera a situação «inadmissível». «Isto nunca aconteceu nem sequer no tempo dos meus avós», disse, revoltado, o presidente da Câmara de Poiares, considerando que o único culpado desta «destruição do sistema de saúde» é o primeiro-ministro, José Sócrates, «que com as suas reformas sem pés nem cabeça e com o encerramento dos Serviços de Atendimento Permanente está a criar uma situação dramática». «É inconcebível que o Centro de Saúde de Vila Nova de Poiares esteja sem médicos», uma situação que, para além do dia de ontem, já se terá feito sentir, também este mês e que, admite o autarca, com toda a certeza estará a afectar outros centros de saúde.

Demissão do presidente da ARSC
Jaime Soares não “culpa”os profissionais daquele centro de saúde, nem médicos nem enfermeiros, mas, para além das acusações à política de José Sócrates, “aponta o dedo” ao presidente da Administração Regional de Saúde (ARS) do Centro, que em seu entender «não coordenou a estrutura e não acautelou os mecanismos necessários para que isto não acontecesse», independentemente das razões que possam estar na base desta carência recorrente de pessoal médico.

Face à situação, o presidente da Câmara de Poiares exige a «demissão urgente» de João Pedro Pimentel e deixa um aviso muito claro: «se acontecer alguma coisa grave, que ponha em risco algum munícipe de Vila Nova de Poiares, avanço com um processo-crime contra o responsável da ARSCentro».

Jaime Soares admite que, com a reforma do sistema de saúde, «há muito tempo que temia que uma situação destas acontecesse» e, por isso mesmo, afirma ter vindo a fazer diligências no sentido de ter em Poiares «uma ambulância medicalizada e especializada», que, com a contratação de pessoal médico ou de enfermagem poderia garantir uma primeira assistência à população.

«Vive-se uma situação dramática, que mais parece de um país do terceiro mundo», onde a saúde «não é, efectivamente uma prioridade», remata, agastado o autarca de Vila Nova de Poiares.

ARSCentro garante normalização do serviço
Um «problema pontual», com o médico que estava ontem a garantir o serviço da consulta aberta no Centro de Saúde de Vila Nova de Poiares explica que esta consulta tenha registado alguns problemas a partir das 14h00. De acordo com fonte do Gabinete de Imprensa da ARCS, «não foi possível ultrapassar de imediato o problema», garantindo a subsituação do clínico, motivo pelo qual a consulta se manteve em funcionamento, com o «atendimento a ser garantido pelos enfermeiros, que encaminharam os utentes para outros postos sempre que a situação o exigiu». «Foi uma situação pontual, causada por um imprevisto», reforça o Gabinete de Imprensa, garantindo que a consulta aberta se manteve, ainda ontem à noite, entre as 20h00 e as 22h00, em funcionamento, com um enfermeiro.

«O funcionamento da consulta aberta está regularizado a partir de amanhã [hoje]», adiantou ainda ao Diário de Coimbra o Gabinete de Imprensa da ARSCentro, que «lamenta esta ocorrência» e faz questão de deixar um «pedido de desculpas aos utentes que tentaram um atendimento na consulta aberta e não conseguiram», durante a tarde de ontem, no Centro de Saúde de Vila Nova de Poiares. «O nosso objectivo é garantir as respostas adequadas e satisfazer as necessidades da população», sublinhou ainda.