quinta-feira, junho 18, 2009

Jaime Soares – De Coimbra ao futuro político

Deseja um "distrito forte" e gostava que Coimbra fosse efectivamente a capital da região. Deseja entrar na lista do PSD à Assembleia da República (AR), mas mantém o espírito de missão: "Poiares sempre".

“Coimbra é a nossa marca e devia ter criado um distrito forte, como capital da região que não é”, afirma Jaime Soares.
O presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares confessa "que tem conhecimento disso há muitos anos" e que por diversas vezes "tentou dar a volta a isso, de modo a que Coimbra fosse inquestionavelmente a capital da região". A realidade, porém, é bem diferente e, agora, "andamos a chorar sobre leite derramado quando esta ou aquela estrutura abandonam Coimbra, esquecendo que ninguém em tempo útil foi capaz de levantar a voz". Jaime Soares recusa o auto-elogio, mas recorda os "combates" por causas que deviam ser de todos, independentemente da cor política.
Tem um "respeito muito grande" pela Universidade de Coimbra e "curva-se respeitosamente" perante o valor intelectual e científico, mas, como maior universidade do país, "devia ter promovido o debate em torno de várias matérias", contribuindo para que Coimbra "fosse efectivamente a capital da região". Polémico e irreverente, Jaime Soares garante que "pensa bem" aquilo que diz, "não retirando uma vírgula" à apreciação que faz da realidade: "o nosso distrito podia ser muito mais forte se tivesse existido por parte do espaço mãe a criação de dinâmicas que envolvessem o colectivo", leia-se, todos os concelhos que integram o distrito de Coimbra.
Temos assim, "uma questão de liderança" para resolver num distrito em que os autarcas "não têm muito o sentido do associativismo", optando pelo "salve-se quem puder", o que leva Jaime Soares a questionar a utilidade das associações de municípios. "Nas associações onde estou procuro mudar mentalidades, nomeadamente na Comunidade Intermunicipal do Pinhal Interior Norte, que, se não defender um conjunto de propostas que contribuam para o desenvolvimento da região do ponto de vista das dinâmicas colectivas, não sei se terá alguma razão para existir", considera. E prosseguiu: "se for unicamente para fazer a gestão do QREN no que respeita às verbas contratualizadas, então seria preferível que se deixassem estar os GAT e as CCDR. Tem de ser mais do que isso. Enquanto uns definem um plano estratégico para a região, outros andam a passar a mão pelas costas ao secretário de Estado ou ao ministro para garantir a estradinha que passa à porta, não efectuando uma análise de conjunto".
O julgamento do povo "chegará um dia" e o presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Poiares "não tem pena nenhuma" do que poderá acontecer a quem "não altera as mentalidades". E vai mais longe: "há uma corrupção mental e intelectual que é necessário expurgar de uma vez por todas de pessoas que são eleitas pelas populações. No passado, acredito que tudo tivesse de funcionar desta maneira, porque ninguém tinha nada e todos queriam ter, mas neste momento é necessário dividir o bom pelas aldeias".

Estrada da Beira deve ser recuperada

Recorda a presença da Estrada da Beira na convenção internacional de ligações prioritárias para criticar a evolução dos tempos. "Ninguém se preocupou em recuperar esse estatuto. Uns preocupam-se com o Metro de Superfície, outros com as variantes à Estrada da Beira. Basta lembrar o aumento dos custos na 342, na ligação Lousã, Miranda do Corvo, Lamas, que inicialmente era de dois milhões de contos e que já ultrapassou em muito esta verba. E para quê?", questiona.
Se o dinheiro fosse investido na recuperação da Estrada da Beira "teria sido bem melhor", afirma, lembrando o apoio na Assembleia da República à construção da ligação da Lousã à Estrada da Beira. "Uma grande avenida para entrar... numa estrada de carros de bois! Isto é que é planeamento?! É com isto que se defende uma região?".
As acessibilidades continuam na ordem do dia e Jaime Soares não desarma nas convicções: "uns são de primeira e outros de segunda? E esses, os de primeira, são mais produtivos? Basta comparar o investimento da Câmara de Poiares no Parque Industrial e o rendimento que daí resulta...". Quais são os riscos? "Vila Nova de Poiares poderá sofrer os problemas do passado caso não resolva o problema das acessibilidades". Mas o concelho, demonstra o autarca, depende de outros para chegar a porto seguro: "Há anos que tentamos efectuar a ligação de Poiares a Penacova e o projecto não avança. Não é importante ligar o Pinhal Interior Norte ao IP3?". O acesso ao Porto da Figueira da Foz e ao Porto de Aveiro ficaria facilitado, pelo que Jaime Soares não compreende a opção "pelas pequenas coisas".
A qualidade de vida está à vista em Vila Nova de Poiares, "sem guetos" e com condições ímpares.

Área Metropolitana "era só para alguns"

Elogia a decisão do Governo de acabar com a Área Metropolitana de Coimbra que, "da forma como estava a evoluir, seria só para alguns. "Foi tudo tratado à dimensão do umbigo de cada um e não dos interesses globais. Aliás, não está ainda resolvida a questão da distribuição das verbas que pertencem a todos e que não sei onde estão ou como estão", afirma.
Jaime Soares não desiste das obras na Estrada da Beiral, que assegurem "a resposta às necessidades das populações da Lousã, Arganil, Miranda do Corvo e de Vila Nova de Poiares", e promete manter na ordem do dia a ligação de Poiares ao IP3. "Espero que a Câmara de Penacova, que tem andado adormecida, tente efectuar com Vila Nova de Poiares a ligação ao IP3, a partir da Ronqueira, com uma nova ponte na zona de Vila Nova, para a rotunda da Barca".
Na reunião com o primeiro-ministro, José Sócrates, na Quinta das Lágrimas, o autarca defendeu o aproveitamento das concessões da auto-estrada Coimbra-Viseu para o alargamento, com características de auto-estrada, do IP3 desde Trouxemil a Penacova. "Só eu é que levantei a voz e fiquei à espera que Penacova tomasse idêntica atitude, mas Penacova ficou num silêncio total. São situações que não se podem admitir".
Por outro lado, Penela, Miranda do Corvo e Lousã, que vão ser servidos pelo IC3, "deviam ter assumido uma atitude de força para que fosse construído um túnel que ligasse a Portela a S. Frutuoso". Mas a realidade foi outra: "passa à minha, então o problema está resolvido".

Vila Nova de Poiares “é a minha paixão”

Quem dá a recandidatura de Jaime Soares como certa está... "a adivinhar". Nesta entrevista ao DIÁRIO AS BEIRAS, Jaime Soares garantiu que "nada está decidido" e que, acima de tudo, "são os órgãos do partido que se pronunciarão na altura própria".
O autarca considera que "não tem necessidade de dizer" se é ou não candidato à presidência da câmara, ainda que a decisão pela negativa, a ser tomada, seja comunicada ao partido em tempo útil. No rol de cenários há ainda uma outra possibilidade.
Confrontado com os resultados das eleições europeias e o possível triunfo do PSD nas legislativas, Jaime Soares confessa que, no caso da recandidatura, "este será o último mandato como autarca" e que mesmo com a convicção de que "muito ainda poderei dar, o meu espaço de tempo a nível local está esgotado". Mesmo assim, se a recandidatura ocorrer, "irá assumir a presidência como sempre fiz", colocando na balança nas decisões um desejo: "quero ser candidato a deputado, porque o estatuto de deputado permitirá, quando fizer a opção, a entrada na Assembleia da República, deixando espaço aberto para quem se irá seguir, porque o PSD tem grandes responsabilidades políticas neste concelho", pelo que pretende "dar a entender aos poiarenses quem são as pessoas melhor colocadas para o exercício do cargo". Assim, no caso da recandidatura, Jaime Soares incluirá na lista "as pessoas que possam vir a ocupar a presidência, se essa for a vontade dos poiarenses". Na prática, o actual presidente promete sair de cena para que os poiarenses efectuem uma "escolha acertada, como aliás tem feito ao longo dos anos". E que não haja dúvidas: "quando sair, como diz o povo, saio teso. Fico feliz por isso. Podem acusar-me de tudo, mas a minha vida é transparente. Gostaria de terminar a minha vida política na Assembleia da República, mas não farei imposições. Isto é um desabafo sério. Estou disponível para servir Vila Nova de Poiares, a minha paixão, e também o meu País".

17 de Junho de 2009 in: As Beiras Online