sexta-feira, junho 26, 2009

As margens do Rio Alva

Pelas margens do Rio Alva em Fevereiro 2007 .

Por David Monteiro

O despertador cumpriu a sua função e desperta-me cruelmente às 05:30. Normalmente sou madrugador mas a chuva do dia anterior tinha deixado no ar uma humidade que insistia em gelar-me os ossos. Ainda fiquei naquele vai-não-vai mas vi que acabaria por me atrasar e deixaria o Luís á espera, o que não queria que acontecesse. Por isso, ao segundo apelo daquela máquina infernal acabei por me levantar. Arrumei as tralhas e fui até casa do Luís.Pelo caminho confirmei que a sensação de frio tinha justificação no mau tempo que fazia.

Os aguaceiros fortíssimos seguidos de rajadas de vento desconcertante marcavam o início de um dia de caminhadas em perspectiva … pouco interessante se colocava a situação.Quando partimos em direcção ao nosso destino, Friúmes, já o sol acalmava a fúria do dia mas nem por isso a estrada deixava de nos alertar que todo o cuidado era pouco.
A caminhada que fomos fazer tem o seu início perto de Friúmes, o que nos “obrigou” a passar por Penacova e comer umas queijadas de Lorvão e apreciar o Mondego desde a varanda da confeitaria ao lado do Posto de Turismo. Desta vez não deixámos de cumprir o ritual.

Um extenso chapéu de nuvens negras, daquelas que acinzentam qualquer dia, mantiveram-nos debaixo de olho o tempo todo e, de quando em vez, com uma valente carga de água, lembravam-nos da sua existência.
No entanto, parece que o contracto com o S. Pedro entrou em funcionamento no momento que calçámos as botas e o sol apareceu, embora tímido, dizendo-nos que faria o que lhe fosse possível para nos manter secos. O trilho, muito evidente, apareceu à nossa frente sem qualquer dificuldade levando-nos pinhal a dentro de onde se avistavam vastos campos de cultivo. Ao longe comecei a ver um amontoado de casas em ruínas. Uma aldeia que não resistiu ao abandono.Aproximei-me e não consegui conter-me a divagar. A minha imaginação voa para um espaço e tempo que não vivi mas cujos murmúrios ainda ecoam naqueles campos.

Apesar do recente desleixo, o ordenamento dos campos, contrastando com a restante paisagem, demonstra claramente o aturado resultado do labor humano. Numa zona onde abundam os cursos de água, os terrenos cultivados espalham-se ao longo desses rios e riachos encabeçados por caminhos enlameados, onde dois pequenos tractores não se poderiam cruzar. O meu olhar de espanto estaciona-se nos terrenos cimeiros que, sem qualquer acesso para qualquer tipo de maquinaria, apresentam o mesmo tipo de bom tratamento dos terrenos mais acessíveis.Não consigo deixar de pensar nos homens e mulheres que, de forma maquinal, se levantaram consecutivamente ao ritmo que o sol lhes impôs para virem aqui trabalhar até que tudo isto chegasse ao ponto de eu poder contemplar e desfrutar de tal beleza.
Vejo as costas que arquearam vezes sem conta à força do balanço que a enxada exigiu, forçada pelas mãos calejadas da repetição dos actos.O mesmo frio que me encheu de preguiça não teve possibilidade de passar de um mero suspiro a quem insistentemente teve de vir moldar estas encostas.Equipado com o meu anorack, calças impermeáveis e botas de caminhar reparo que é fria a chuva cai.O capuz do anorack funciona como um tambor e a as gotas de chuva tornam-se num rufar que enche o espírito de qualquer caminhante.Mas a lembrança dos homens e mulheres que por aqui viveram não me deixa sozinho. Olho o chão alagado e a mesma água que circula as minhas botas que a repelem é a mesma água fria que um dia encharcou o calçado dos antigos habitantes e, de repente, sinto desconforto ao calor dos meus pés.As gotas de águas escorriam pela camada de impermeabilizante da minha parka com a mesma facilidade que, um dia a seguir ao outro, penetraram nos tecidos de lã e algodão que estas gentes usavam e não deixo de recordar o quanto me incomodou a humidade ao acordar. A chuva pára e de repente abre-se o céu ao arco-íris.
Ouve-se água a escorrer por todos os lados e as gotas que ficaram no folhedo brilham transferindo os raios de sol para todos os lados e de baixo para cima. Ao longe la se via o Carregal, passamos pelo Cardal e pela Ponte Mucela. Ainda fomos à Moura Morta ver a magnifica paisagem do alto do seu coreto. Às minhas costas ficam as imagens dos campos cultivados e à minha frente deita-se uma cortante paisagem do Rio Alva e o seu açude, o Caneiro.É bom sentir.
David Monteiro

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Não ha duvida que o Rio Alva é dos rios mais lindos deste país. A Estrada da Beira na descida do S.Pedro para a Ponte de Mucela( Estrada Panorâmica)e o troço do rio Alva, da Ponte da Mucela até à Barragem são uma das 7 maravilhas das Beiras.

09:47:00  
Anonymous Anónimo said...

para mim a moura morta é uam felizarda por conter toda akela beleza e as pessoas k nela habitam aind amais felizardas sãooo, pois acordar e olhar para uma paisagem dakelas é do melhor...eu sei o k digo, pois já me aconteceu...**

16:43:00  
Anonymous Anónimo said...

"Um dia irás dar valor à tua terra, mas nesse estarás longe dela."
Autor desconhecido

01:21:00  
Anonymous Anónimo said...

E já ouviste o cuco este ano? e a gouxa durante a noite na Mata?
Ate mete medo. è um passarão com asas com mais de 2 metros de envergadura.
Nem a Aguia e a coruja lhe chegam aos calcanhares, nem às retrizes.

10:00:00  

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