sexta-feira, março 11, 2016

O nosso Presidente da Republica - As mulheres de Marcelo Rebelo de Sousa

As mulheres de Marcelo Rebelo de Sousa

Revista Saber Viver // Em Foco

Texto: Luis Batista Gonçalves 


As figuras femininas que mais marcaram o professor e comentador televisivo, o quinto Presidente da República portuguesa após o 25 de Abril de 1974 numas eleições ganhas logo à primeira volta.
Foi literalmente, desde pequeno, o menino da mamã. «Aliás sempre fui o filhinho protegido da minha mãe», reconhece Marcelo Rebelo de Sousa na sua biografia. No livro, publicado pela editora A Esfera dos Livros em 2012, o jornalista Vítor Matos, autor da obra, escreve que o professor catedrático da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa «teve sempre uma relação especial com as mulheres, talvez fruto do peso da mãe na sua educação».
Maria das Neves Fernandes Duarte esteve, no entanto, longe de ser a única mulher na vida do que foi, durante anos, o comentador mais popular do país, antes de ser eleito, a 24 de janeiro de 2016, o quinto Presidente da República portuguesa após o 25 de Abril de 1974 numas eleições que venceu à primeira volta. Teve a primeira namorada aos 12 anos e, aos 17, era considerado por muitos dos que o rodeavam um autêntico pinga-amor.
Algumas das suas professoras também o marcaram e influenciaram. Saiba quem são as figuras femininas que mais marcaram o homem que não dispensa diariamente um banho no mar e que, antes de começar a trabalhar como jurista, chegou a fazer novelas radiofónicas na Emissora Nacional, com a atriz Ana Zannati, para ganhar dinheiro.
A mãe
Maria das Neves Fernandes Duarte, mãe de Marcelo Rebelo de Sousa, teve uma grande influência na vida do ex-dirigente político. Mulher de vida difícil, nasce orfã de pai na Covilhã e fica imediatamente órfã de mãe também. A progenitora, que já tinha tido o desgosto de perder uma filha, morre no parto. Fica aos cuidados da avó materna, que morre cerca de seis meses depois.
É acolhida por um tio com o título eclesiástico de monsenhor, pároco de Santos, em Lisboa. António Fernandes Duarte, homem de culto amigo do cardeal António Cerejeira, envia-a para o Instituto de Odivelas, que pode frequentar por ser filha de um militar. «Eu saio à minha mãe, aliás sempre fui o filhinho protegido da minha mãe, enquanto os meus irmãos eram mais do meu pai», reconhece o comentador.
A progenitora começou a sentir as dores de parto que antecederam o seu nascimento num dia de dezembro de 1948, depois de sair do Instituto Aurélio da Costa Ferreira, onde trabalhava como assistente social e onde o futuro jurista a chega a acompanhar. «Não tinham criadas nem ama, portanto, Marcelo ia com a mãe para o trabalho, mesmo para os bairros mais pobres de Lisboa», refere Vítor Matos.
A vida ao lado de Baltazar Leite Rebelo de Sousa, com quem começou a namorar aos 21 anos, nem sempre foi fácil. Apesar das suas origens abastadas, a situação económica do casal não era propriamente desafogada. «Viviam com as dificuldades normais de uma classe média promissora, ligada ao regime», sublinha o jornalista. No entanto, acabaria por ser num ambiente de fausto e requinte, marcado por viagens de luxo e festas de elites, que o professor catedrático seria criado.
A primeira namorada
Isabel Coelho Alves foi a primeira namorada de Marcelo Rebelo de Sousa. O professor tinha 12 anos. Irmã de Carlos Alves, neto do medico Eduardo Coelho, que operou Salazar após a queda da cadeira que o afastou dos destinos do país, não resistiu ao «Queres namorar comigo?» que o jurista lhe lançou, de raquete na mão, na Escola de Ténis do Estoril, durante as aulas do pai de João Lagos, que viria a ser o rosto da organização do Estoril Open.
As ondas do mar da praia do Estoril assistiram aos passeios de gaivota que por lá davam. Falavam horas e horas ao telefone, um comportamento de dependência que chegava a incomodar a família. «O namoro é inocente», descreve Vítor Matos no livro. «O namoro é um cândido estremecimento de verão que começa e acaba com os calores dos Estoril e que dura até cerca dos 14 anos», refere ainda o jornalista de política da revista Sábado.
A mulher que o levou ao altar
Não foi amor à primeira vista. Muito pelo contrário! O primeiro impacto que Marcelo Rebelo de Sousa causou em Ana Cristina Motta Veiga, que viria a ser a sua primeira e única esposa, aos 16 anos, numa festa de Natal organizada pela família Motta Veiga, esteve longe de ser a melhor.  «Deixou a impressão de ser um rapaz muito tímido, encolhido pelos cantos», pode ler-se na sua biografia.  Voltaria a reencontrá-la, com a irmã, à saída de uma missa em Santo António do Estoril.
Umas semanas depois, numa matinée no Palm Beach, apesar de ela estar com o namorado da altura, o tenente da marinha João Bandeira Enes, o comentador, que nem sequer era um grande bailarino, ganha coragem e convida-a para dançar. Ela aceita. «A simpatia é recíproca. Começam a sair», revela o livro. O (ainda) namorado está embarcado quando Ana Cristina Motta Veiga começa a namorar com o ex-líder do PSD.
Casariam, uns tempos mais tarde, no monte alentejano dos avós da noiva em São Miguel de Machede, no dia 22 de Julho de 1972. Têm dois filhos mas separam-se no fim de 1980. «Eu vivia sozinha, com os meus amigos», lamenta a antiga companheira do professor. «A Cristina [como ele lhe chama] tem muito bom feitio mas precisava de atenção. Eu acabei por nunca lhe dar essa atenção», admitiu já publicamente o antigo director do semanário Expresso.
A namorada com quem nunca quis casar
Ele não se cansa de lhe tecer elogios e refere-se a ela como sendo a sua «sensação espiritual». Rita Amaral Cabral namora com Marcelo Rebelo de Sousa desde os primeiros anos da década de 1980 mas nunca contraíram matrimónio nem nunca sequer quiseram viver juntos. «Não me voltarei a casar nunca mais. A Igreja Católica não aceita o divórcio e eu concordo. E recuso-me pelas mesmas razões de princípio a pedir a anulação do [meu primeiro] casamento», disse à jornalista Clara Ferreira Alves, numa entrevista.
«Tive a sorte de encontrá-la [à Rita Amaral Cabral] porque ambos partilhamos a mesma convicção católica de que o matrimónio dura ate a morte. Tive a sorte de que a mulher a quem tive de pedir sacrifícios concordasse inteiramente [com eles]», justificou o comentador. O romance iniciou-se quando se (re)encontraram, em 1981, nas reuniões da assembleia de representantes da Faculdade de Direito, o órgão que votava e escolhia os elementos do conselho directivo.
No Outono desse ano, no final de umas eleições, ficam sozinhos a fiscalizar a urna de voto enquanto os restantes membros da mesa vão jantar. Quando os colegas regressam, vão eles dois cear. Pouco depois, começam a sair juntos e a namorar, iniciando uma relação que se prolonga até os dias de hoje. Em 2006, um problema cardíaco de Rita Amaral Cabral trava a candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa à Presidência da República. Ele considera que a doença dela foi um sinal da providência divina para não se submeter a sufrágio.
A filha
Sofia Rebelo de Sousa é a segunda filha do professor catedrático, a seguir a Nuno, o primogénito, que nasceu com sinais de morte aparente. Veio ao mundo a 27 de Setembro de 1976. O pai queria chamar-lhe Joana. A mãe preferia Sofia. O comentador anuiu. Na altura, «Marcelo acha-a mais bonita do que era o irmão quando o viu mirrado e recém-nascido, dentro der uma incubadora», revela a biografia de Vítor Matos.
Durante os primeiros quatro anos de vida, raramente vê o pai, absorvido em (mais) trabalho desde que passou a dirigir o semanário Expresso. Fica a viver com a mãe após a separação mas em 1995 muda-se para casa do pai, «a meio de um fenómeno de rejeição pós-juvenil, que poderia ter a ver com a idade», sublinha o jornalista.
Apesar do bom relacionamento entre os dois, nem tudo são rosas. Nessa fase, a relação com o pai, com quem passava longas horas à conversa de madrugada, também não é sempre fácil. Marcelo Rebelo de Sousa não percebe como é que a filha troca o curso de gestão pelo de ciências da educação e também não entende as suas opções estéticas. Nessa altura, «Nuno, de 23 anos, não era noctívago, mas a irmã sai ao pai», refere Vítor Matos.
A amiga que foi apontada como amante
Pode não ter tido o proveito mas da fama não se livra. No final da década de 1970, Margarida Salema, irmã da arquitecta e vereadora Helena Roseta, vizinha de Marcelo Rebelo de Sousa e assistente na Faculdade de Direito de Lisboa, colabora no livro que o jurista prepara em conjunto com Sá Carneiro, uma obra que seria publicada em Janeiro de 1979 com o título «Uma constituição para os anos 80».
Tornam-se muito próximos, como confirma a biografia escrita pelo jornalista da Sábado. A mulher não gosta de o ver horas a fio trancado no escritório a preparar o currículo para o doutoramento na companhia da amiga. A criada da casa espicaça-a, dizendo-lhe que anda «tapadinha». O comentador nega a relação extraconjugal e admite apenas «uma relação de muita amizade alargada à sua família e afins. Eis o que aconteceu», assegura.
As (outras) namoradas:
- Maria do Carmo Viana
Teve muitas. Foi homem de paixões fortes e intensas. Maria do Carmo Viana, que viria a casar com um dos primeiros militantes do PSD, próximo do comentador, foi um dos seus namoricos de juventude, que tinham muito em comum. «Esses namoros de meses comportam sempre uma componente religiosa, com idas à missa e conversas sobre os novos caminhos da Igreja», descreve a sua biografia.
Isabel Matos Dias, a quem deu explicações de filosofia e que mais tarde seria professora de filosofia na Faculdade de Letras, também integra essa lista. «O namoro começa em casa entre insinuações durante as matérias filosóficas. Foi a primeira vez que teve um amor tão intenso», garante Vítor Matos.
«O par era sistematicamente corrido pelo guarda do Jardim do Torel, que não os queria ali a fazer figuras indecentes», refere ainda o livro. Voltariam a cruzar-se, anos mais tarde, quando participam no Grupo da Luz com o padre Vítor Melícias.
- Fátima Cabral Sacadura
- Fátima Cabral Sacadura foi a namorada que se seguiu. «A mãe da rapariga é protectora e disciplinadora e nem lhe dá ordem para namorar em casa. Mas, quando a mãe vai à missa, Fátima abre a porta do apartamento e conversa com Marcelo junto ao elevador», revela ainda a biografia. O professor não perde a oportunidade.
- Teresa Beleza
Teresa Beleza, mais conhecida no meio familiar como Tareca, irmã da sua grande amiga Leonor Beleza, foi outra das grandes paixões do comentador em 1969. E também uma das mais polémicas. «A avó Joaquina acha excessivo o tempo dedicado ao namoro e não quer Tareca lá por casa», recorda o autor da obra.
«Nenhum de nós gostava dela», assume António Rebelo de Sousa, irmão do ex-dirigente do PSD. «Ela parecia ser muito fútil e reaccionária nas posições que assumia quando estava com os meus pais, não sei se para ser simpática», recorda. «Eu tenho a tese – que o meu irmão negará evidentemente – de que sempre sentiu uma paixão platónica pela Leonor Beleza», confessa.
Como seria de esperar, Marcelo Rebelo de Sousa nega, assumindo apenas uma «amizade quase fraternal», como faz questão de frisar. «Achava-a divertida mas a Leonor era mais brusca, mais distante», relembra. «A Tareca era uma sedutora natural», classifica. «A Leonor já sabia os meus tiques, as minhas reacções e eu já sabia os dela», desabafa.
- Ana Zannati
A actriz e escritora Ana Zannati foi sua colega de turma. Para a impressionar, chegou a descer a Avenida Estados Unidos da América, em Lisboa, de costas viradas e sem as mãos no guiador, sob o olhar da namorada da altura. Estiveram juntos num programa de teatro radiofónico na Emissora Nacional com a professora Maria Emília Marques. «Marcelo ganha nestes anos o seu primeiro dinheiro a participar em novelas radiofónicas», revela Vítor Matos.
A cantora francesa, de origem búlgara, Sylvie Vartan, na altura casada com a rock star francesa Johnny Hallyday, não integra a lista de conquistas do comentador político, mas Marcelo Rebelo de Sousa admirava-a ao ponto de, num concerto que a intérprete de temas como «J'ai un probleme», «L'amour au Diapason» e «Parle moi de ta vie» deu no Teatro Monumental em Lisboa saltar para o palco para se aproximar dela. Teve de ser retirado pela polícia.
As professoras
Berta Ávila de Freitas era ainda directora do Jardim-Escola João de Deus quando conheceu os pais de Marcelo Rebelo de Sousa. Pouco depois, saiu em litígio com a direcção do estabelecimento e abriu a sua escola, a que chamou Lar da Criança. Localizado nas proximidades da casa dos Rebelo de Sousa, a instituição de ensino aplicava métodos considerados avançados para a muito tradicional escola primária do Estado Novo.
Era também lá que alunos como o ex-dirigente do PSD frequentavam a catequese e não na igreja da paróquia. «Quando se portavam bem, os meninos ganhavam pastilhas ou drageias de açúcar. Quando se portavam mal, ficavam a penar voltados para um canto», refere o livro de Vítor Matos. Em casos mais extremos, os rapazes tinham o humilhante castigo de ter de vestir o bibe cor-de-rosa das meninas.
Apesar das origens, Marcelo Rebelo de Sousa não foi discriminado positivamente nesta fase da sua vida. Berta Ávila de Freitas chega a insurgir-se quando motorista do pai Celinho, como muitos familiares e amigos ainda tratam o jurista, no carro do Governo até à porta do colégio «Se pensam que vão ser bem tratados porque o paizinho está no Governo, enganam-se. Vão ser tratados até com mais rigor», tratou logo de avisar a professora.
Maria Luísa Guerra, professora de filosofia, foi mais benevolente, acompanhando-o e aconselhando-o com toda a paciência.  A antiga professora ainda se lembra bem das angústias do seu melhor aluno nos meses que antecederam a escolha da área profissional a seguir.
«Andámos uma manhã de nevoeiro a subir e a descer a rua da lapa, em que ele me expunha as suas hesitações entre ir para direito, medicina, ciências ou matemáticas. Foram duas horas para baixo e para cima, até que, por fim, ficou definido o direito», conta. «Marcelo era sempre o primeiro, [para ele, nas aulas] não havida dúvidas», revela ainda.
Catherine Mackey, a preceptora irlandesa já idosa que teve, foi, a par de Alice Gardenne Chaves, que lhe deu aulas particulares, outra das figuras educativas que o acompanharam ao longo do seu percurso de estudante. Ajudou-o a consolidar o seu inglês.
No sexto ano, teve também explicações de alemão com a fraulein Johanna Stynnian, «uma germânica muito rígida e com tão pouco sentido de humor que estimula a criatividade de Marcelo, que lhe faz as maiores perfídias: esconde-lhe a chave de casa, desliga-lhe o contador da água, muda-lhe as coisas de sítio», descreve ainda a biografia do comentador.
Cumprimentos
Luiz Pinto

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