Resina do Pinheiro Bravo,
Lembram-se da extracção?
A produção de resina teve um papel importante na economia da nossa terra ate aos anos 70 quando os fogos arrasaram os pinhais dos termos da Moura Morta e mesmo da freguesia das Lavegadas.
Quase todas as casas tinham os seus pinhais sangrados para a colha da resina, produto que dava algum rendimento, havendo alguns resineiros residentes que trabalham para a Fabrica de resina dos Portugais da Portelinha em Vale de Matouco.
Embora a colheita de resina ainda hoje continue nalguns locaisa, atingiu o ponto máximo entre 1920 e 1970. É difícil obter uma ideia da indústria que existia antes de 1920 mas sabemos que o maior aumento de produção de resina aconteceu aquando da criação do Pinhal Interior Norte. Esta área florestada foi sistematicamente plantada com pinheiros-bravos (Pinus pinaster) entre 1900 e 1950.
A resina do pinheiro é um líquido viscoso que é excretado pelo pinheiro para selar e proteger qualquer ferida no pinheiro. É de uma cor amarelo acastanhado e no contacto com o ar torna-se duro e forma uma crosta quebradiça e pegajosa. Resina fossilizada é conhecida como âmbar e é considerada uma pedra semi-preciosa.
A resina é principalmente utilizada para a produção de aguarrás e pês. A aguarrás é utilizada para diluir e dissolver tintas e vernizes, em graxa de sapato e lacre. É também juntada a muitos produtos de limpeza devido as suas propriedades anti-sépticas e o seu perfume a pinheiro. O pês é utilizado em cola de papel e na fabricação de sabão, vernizes e tintas e talvez a utilização mais conhecida seja para os arcos de instrumentos musicais de corda como o violino. A vulgar resina de pinheiro era no passado utilizada nas embarcações de vela para as impermeabilizar. Também tem propriedades medicinais: sabe-se que é anti -patogénica (isto é a função principal para o pinheiro) e foi durante anos utilizada para esfoladelas e feridas, como tratamento contra piolhos, misturada com gordura animal para massajar no peito, ou para inalar contra doenças nasais e de garganta. No passado era aplicada em cubos de açúcar ou em mel como tratamento contra parasitas intestinais e remédio geral para tudo. É também um estimulante, um diurético, um adstringente e um anti-espasmódico. (Porém deve-se tomar em conta que o seu vapor pode queimar a pele e os olhos, prejudicar os pulmões e o sistema nervoso central quando inalada e causa insuficiências renais quando ingerida).
Um pinheiro de tamanho médio pode produzir 3-4kg de resina por ano. Os pinheiros produzem a melhor qualidade de resina quando estão em crescimento, por isso, o volume da colheita desce entre Abril e Setembro.
Lembro-me quando na minha juventude havia dois resineiros na Moura Morta o Jaime da Meda e o Ti Albino do Cimo da Rua, que removiam parte da casca na base do pinheiro, colocava peças de metal no pinheiro para direccionar o fluxo da resina para os cacos da resina ( de barro e mais tarde de plástico). Depois apanhavam a resina com uma colher para um caneco ou gamela.
Depois de rasparem a resina endurecida e cristalizada, a área era coberta com uma solução de ácido que estimulava a sangra da resina. Em cada ano era feito mais uma bica mais acima no tronco do pinheiro A resina era armazenada em velhas barricas de madeira colocadas estrategicamente nas estradas dos pinhais. Quando cheias eram transportadas por carros de bois ate à Barroca por baixo da figueira da Ti Adelaide onde hoje esta a Paragem do Autocarro. Era aí que depois vinha a camioneta do Portugal para carregar as barricas para a fabrica na Portelinha no ramal para o Vale de Matouco.
A resina era despejada na ‘barca’ (grande depósito de resina). O processo passava pelo aquecimento da resina até ao estado líquido e a filtração de todas as partículas de impureza do material. Antigamente, a resina era aquecida através de um fogo aberto, numa grande caldeira selada com uma serpentina de condensação, muito parecido com um alambique de aguardente. A aguarrás condensa, deixando o pês líquido no fundo da caldeira de destilação. O pês produzido desta forma tem uma cor vermelho acastanhado. Modernas técnicas de destilação utilizam vapor e produzem um pês de uma qualidade muito superior de cor amarelo dourado. Após a separação da aguarrás e do pês, o pês líquido é deitado em tabuleiros metálicos para arrefecer e endurecer. Quando está duro, é manualmente partido com um bastão de madeira em peças pequenas, que a seguir são ensacados e estão agora prontas para a distribuição.
Hoje ainda existem meia duzia de velhos pinheiros na Moura Morta que nunca mais foram sangrados, e que apresentam ainda as cicatrizes de décadas de sangria. Ainda se podem encontrar restos dos cacos que antes se utilizavam para a colheita da resina. Nalgumas casas , a colheita de resina era o rendimento principal e muitas vezes coexistia com a venda de milho, batatas e vinho. É um facto que florestas com activa produção de resina tinham uma menor incidência de fogos florestais, provavelmente porque a comunidade estava mais próxima e envolvida na exploração e conservação dos pinhais.
A resina proveniente de Portugal e outros países mediterrâneos é considerada ser de uma qualidade de topo, mas devido aos custos de mão-de-obra, a produção mudou-se durante as últimas décadas para países em vias de desenvolvimento.
Publicado anteriormente em 1.12.2010
Etiquetas: Resina, Resineiros
4 Comments:
Sera QUE NESTA ALDAIA
UM FLANO AMDA A ROUBAR OS PINHEIROS.
E para os rezinsr , ou para destruir o mudatudo.
Excelente artigo. Rectifico apenas que a Fábrica de Rasina de Alfredo Martins Portugal, transferida da Ponte de Mucela em 1947 era situada na Portelinha. Para a Ponte da Mucela veio ainda transferida pelo mesmo sr. Portugal da Catraia do Farropo. É que antigamente estes Alvarás industriais eram bastante difíceis de obter...
gostei imensamente do artigo. Descobri ouso dessa resina por acaso em site de arquearia, quanto ao uso com mistura de carvão e fezes de esquilo;Resulta em uma cola de grande poder de aderência. usa-se para colar chifre de búfalo a madeira, na montagem de arcos chineses e coreanos, coisa bem difícil de fazer pela tração que as peças sofrem ao serem retesadas.Muito bom seu artigo, esclareceu vários pontos para mim,pensei que era "coisa que só asíatico é que sabiam.Grato
Valdoir Tosta
É interessante saber-se que na Ponte da Mucela, onde o Sr. Adriano Lucas recuperou uma casa, junto à presa que la existia, tinha havido uma fabrica de resina e que precedeu a que se conheceu na Portelinha em S. Marinho da Cortiça.
Aquela chamine é então uma reliquia a preservar como patrimonio industrial da Freguesia das Lavegadas. Pena que ninguem tente recuperar ou " mostrar" um forno da cal, que os houve, pelo menos 2 e as moendas, os lagares e os moinhos de ribeiro. Ate mesmo os alambiques que existiram. Estas industrias ate à 2º Guerra Mundial, eram obrigadas a ter alvara proprio da industria em que estavam inseridos.
Ja na altura os isqueiros tinham licença,as carroças os carros de bois e as bicicletas, tinham registo de matricula....e pagava-se bem por isso.
Ate o braçal se pagava, que era um imposto por se andar na rua. E esta, não sabiam?
Quem não pudesse pagar o braçal, dava um dia de trabalho para a comunidade, para arranjarem estradas e caminhos.
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