quinta-feira, dezembro 11, 2008

Mê querido filho, ponho-te estas poucas linhas para saberes que estou viva. Escrevo devagar porque sei que não gostas de ler depressa.

Se receberes esta carta, é porque chegou. Se ela não chegar, avisa-me que eu mando-te outra.

Tê pai leu no jornal que a maioria dos acidentes ocorrem a 1km de casa.
Assim, mudámo-nos para mais longe.

Sobre o casaco que querias, o tê tio disse que seria muito caro mandar-to pelo correio por causa dos botões de ferro que pesam muito. Assim arranquei os botões e puse-os no bolso. Quando chegar aí, prega-os de novo.

No outro dia, houve uma explosão na botija de gás aqui na cozinha. O pai e eu fomos atirados pelo ar e saímos fora de casa. Que emoção: foi a primeira vez em muitos anos que o tê pai e eu saímos juntos.

Sobre o nosso cão, o Joli, anteontem foi atropelado e tiveram de lhe cortar o rabo, por isso toma cuidado quando atravessares a rua.

Na semana passada, o médico veio visitar-me e colocou na minha boca um tubo de vidro. Disse para ficar com ele por duas horas sem falar. O teu pai ofereceu-se para comprar o tubo.

Tua irmã Maria vai ser mãe, mas ainda não sabemos se é menino ou menina, portanto não sei se vais ser tio ou tia.

O teu irmão António deu-me muito trabalho hoje. Fechou o carro e deixou as chaves lá dentro. Tive que ir a casa, pegar a suplente para a abrir.
Por sorte, cheguei antes de começar a chuva, pois a capota estava em baixo.

Se vires a Dona Esmeralda, diz-lhe que mando lembranças. Se não a vires, não digas nada.

Tua Mãe Maria
PS: Era para te mandar os 100 euros que me pediste, mas quando me lembrei já tinha fechado o envelope.