Evocando as Festas do Divino Espirito Santo na Moura Morta
Festas do Divino Espirito Santo na Moura Morta
Foi no passado fim de semana que se celebrou a Festa do Espirito na Capela da Moura Morta. Origem e expansão do culto.
Sobre as origens do culto e dos rituais utilizados, pouco se sabe. A corrente dominante filia o culto ao Divino Espírito Santo nas celebrações introduzidas em Portugal pela Rainha Santa Isabel, que por sua vez as teria trazido do seu Aragão natal. De facto existem notícias seguras da existência do culto nos séculos XIV e XV em Portugal. O seu centro principal parece ter sido em torno de Tomar (a Festa dos Tabuleiros parece ter aí raiz), localidade que era sede do priorado da Ordem de Cristo, a que foi confiada a tutela espiritual das novas terras, incluindo dos Açores.
IMPÉRIO DO DIVINO ESPÍRITO SANTO
1. História
A instituição das festas do Império do Divino Espírito Santo celebrando o Pentecostes (representação da descida do Paracleto sobre os apóstolos) anda atribuída à Rainha Santa Isabel, na sua vila de Alenquer, em data que não obteve ainda o consenso dos investigadores. A. Rodrigues de Azevedo adianta, baseado numa escritura que existiu na Câmara de Alenquer, o ano de 1280, enquanto Jaime Cortesão, adoptando sugestão de frei Manuel da Esperança e tendo à vista documentos do Arquivo de Alenquer, afirma ter sido o Convento de S. Francisco da mesma vila o palco da sua primeira realização, em 1323. Outros autores optam pelo Paço da Vila de Sintra sem, contudo, especificarem a ocasião do evento. Porém, já no Compromisso da Confraria do Espírito Santo de Benavente, o mais antigo que se conhece, coevo da fundação da igreja do Espírito Santo dessa localidade que presumivelmente se verificou no primeiro quartel do séc. XIII, se alude à festevidade do Império, o que leva a supôr a sua concretização aí anteriormente a 1280, promovida ou inspirada por franciscanos de tendência espiritual. Os mesmos que secundando o proselitismo de Santa Isabel lograriam levá-la a patrocionar e, porventura, institucionalizar nos inícios do séc. XIV tais festejos com um aparato nunca antes visto, o que terá contribuido para radicar a tradição segundo a qual sob a sua égide e de D. Dinis se haviam originado.
2. Difusão
Tamanho foi o exito alcançado pelas festividades do Divino Paracleto que rapidamente alastraram por todo o país. A sua vitalidade deveu-se sem dúvida ao facto do culto se ter transformado em devoção popular, com reflexos imediatos na política do estado português.De resto, o seu apogeu, compreendido entre o séc. XIV e a 1ª metade do séc. XVI, coincide exactamente com o auge da expansão marítima o que não deixa de ser sintomático da íntima relação de causa-efeito, entre ambas as realidades. Jaime Cortesão refere só ter encontrado quatro hospitais colocados sob tal invocação antes de 1321. A partir desse ano e até ao fim de quinhentos listou cinco centenas de cidades, vilas ou aldeias cuja matriz tinha o Espírito Santo por orago, cerca de 80 hospitais e albergarias com suas capelas, um milhar de conventos, capelas de igrejas e principalmente ermidas daquela invocação. A sobrevivência dos ideias que constituem o fundo desta devoção, a bem dizer nacional, passado o seu apogeu processou-se por intermédio do messianismo do Quinto Império, indevidamente reduzido ao Sebastianismo, o qual, para sua própria assunção e sagração, suscitou tal ambiguidade.Disso é testemunho a convicção expressa no séc. XVII pelo Bispo de Porto, D. Fernando Correia de Lacerda, quando escreve: "E considerando o Império e a Candeia se é lícito ajuizar as alheias acções, principalmente estas que são misteriosas, não podemos deixar de entender que aquela candeia põe a Santa Raínha todos os anos ao Espírito Santo, para que Deus, havendo um só pastor e um só rebanho, estabeleça, em cumprimento da sua promessa, na coroa portuguesa, o império universal do mundo".
3. Símbolo
O culto do Divino Espírito Santo sob a forma de Império é expressão exclusiva do mundo lusíada (nos Açores e no Brasil conserva ainda a fidelidade às origens) não tendo qualquer similitude com as devoções homónimas que existem por todo o restante universo católico. A principal cerimónia da Função Folia ou Império, consistia, salvo ligeiras variantes regionais, na coroação com três coroas, uma imperial e duas reais, do Menino Imperador assessorado por dois Reis - um homem jovem e outro idoso -, respectivamente na razão das idades do Espírito Santo, do Filho e do Pai. O Menino, símbolo da humanidade espiritualmente renovada e religada às verdades fundamentais da pobreza evangélica e do amor fraterno, empunhava o ceptro, com que tocando a fronte se significava a benção do divino, e após ter recebido as homenagens do povo e das autoridades civis, militares e religiosas procedia à libertação dos presos, concluindo os festejos com um bodo servido a todos independentemente da sua condição social e constituído por um repasto confeccionado com a carne dos bois previamente corridos, pão, vinho e arroz doce. O Império do Divino Espírito Santo é, efectivamente, a representação simbólica do advento da Terceira Idade do mundo, numa espécie de Pentecostes nacional, de acordo com a consabida tese que se pode buscar no cisterciense Joaquim de Fiore e nos meios joaquimitas e segundo a qual a história da humanidade percorreria desda a Criação até ao Fim do Mundo três Tempos, vividos cada um sob a influência de uma das três pessoas da Trindade. Assim, a lei mosaica foi própria da Idade do Pai, a lei evangélica da do Filho e a futura lei do Evangelho Eterno sê-lo-á da do Espírito Santo. O esgotamento da 2ª Idade ou do Filho prenunciará o início do Tempo do Divino Paracleto, era de confraternização universal de cujo advento os portugueses se fizeram arautos, disseminando pelas novas latitudes essas expectativas milenaristas, porém nem sempre da forma mais ortodoxa e conforme aos dogmas romanos. Esse o móbil da perseguição de que os festejos passaram a ser alvo a partir do séc. XVI, nunca o carácter pagão então invocado pela hierarquia eclesiástica e mais tarde pela etnografia arregimentada para mascarar os autênticos motivos. Cada um desses períodos históricos encarnando personalidade própria estaria na origem de diferentes formas religiosas, manifestadas sucessivamente de Oriente para Ocidente. A sede da Igreja do Pai fora Jerusalém, a do Filho, Roma. A Terra Santa vindoura onde situá-la? "Nova Roma" chamou Camões a Lisboa.
De Mafra se diz que pelo menos durante um dia há-de ser Roma. Seja como for, os iniciados na doutrina dos espirituais franciscanos identificavam-na com Alenquer. Segundo eles essa era a povoação portuguesa que maiores semelhanças tirava de Jerusalém, a qual constitui no círculo judaico-cristão-islâmico o modelo paradigmático da Cidade Santa, a imagem representativa da teofania, i.e., da revelação divina, daí a primazia dada a Alenquer - curiosamente vizinha de Meca - como pólo da religião nacional.
Foi no passado fim de semana que se celebrou a Festa do Espirito na Capela da Moura Morta. Origem e expansão do culto.
Sobre as origens do culto e dos rituais utilizados, pouco se sabe. A corrente dominante filia o culto ao Divino Espírito Santo nas celebrações introduzidas em Portugal pela Rainha Santa Isabel, que por sua vez as teria trazido do seu Aragão natal. De facto existem notícias seguras da existência do culto nos séculos XIV e XV em Portugal. O seu centro principal parece ter sido em torno de Tomar (a Festa dos Tabuleiros parece ter aí raiz), localidade que era sede do priorado da Ordem de Cristo, a que foi confiada a tutela espiritual das novas terras, incluindo dos Açores.
IMPÉRIO DO DIVINO ESPÍRITO SANTO
1. História
A instituição das festas do Império do Divino Espírito Santo celebrando o Pentecostes (representação da descida do Paracleto sobre os apóstolos) anda atribuída à Rainha Santa Isabel, na sua vila de Alenquer, em data que não obteve ainda o consenso dos investigadores. A. Rodrigues de Azevedo adianta, baseado numa escritura que existiu na Câmara de Alenquer, o ano de 1280, enquanto Jaime Cortesão, adoptando sugestão de frei Manuel da Esperança e tendo à vista documentos do Arquivo de Alenquer, afirma ter sido o Convento de S. Francisco da mesma vila o palco da sua primeira realização, em 1323. Outros autores optam pelo Paço da Vila de Sintra sem, contudo, especificarem a ocasião do evento. Porém, já no Compromisso da Confraria do Espírito Santo de Benavente, o mais antigo que se conhece, coevo da fundação da igreja do Espírito Santo dessa localidade que presumivelmente se verificou no primeiro quartel do séc. XIII, se alude à festevidade do Império, o que leva a supôr a sua concretização aí anteriormente a 1280, promovida ou inspirada por franciscanos de tendência espiritual. Os mesmos que secundando o proselitismo de Santa Isabel lograriam levá-la a patrocionar e, porventura, institucionalizar nos inícios do séc. XIV tais festejos com um aparato nunca antes visto, o que terá contribuido para radicar a tradição segundo a qual sob a sua égide e de D. Dinis se haviam originado.
2. Difusão
Tamanho foi o exito alcançado pelas festividades do Divino Paracleto que rapidamente alastraram por todo o país. A sua vitalidade deveu-se sem dúvida ao facto do culto se ter transformado em devoção popular, com reflexos imediatos na política do estado português.De resto, o seu apogeu, compreendido entre o séc. XIV e a 1ª metade do séc. XVI, coincide exactamente com o auge da expansão marítima o que não deixa de ser sintomático da íntima relação de causa-efeito, entre ambas as realidades. Jaime Cortesão refere só ter encontrado quatro hospitais colocados sob tal invocação antes de 1321. A partir desse ano e até ao fim de quinhentos listou cinco centenas de cidades, vilas ou aldeias cuja matriz tinha o Espírito Santo por orago, cerca de 80 hospitais e albergarias com suas capelas, um milhar de conventos, capelas de igrejas e principalmente ermidas daquela invocação. A sobrevivência dos ideias que constituem o fundo desta devoção, a bem dizer nacional, passado o seu apogeu processou-se por intermédio do messianismo do Quinto Império, indevidamente reduzido ao Sebastianismo, o qual, para sua própria assunção e sagração, suscitou tal ambiguidade.Disso é testemunho a convicção expressa no séc. XVII pelo Bispo de Porto, D. Fernando Correia de Lacerda, quando escreve: "E considerando o Império e a Candeia se é lícito ajuizar as alheias acções, principalmente estas que são misteriosas, não podemos deixar de entender que aquela candeia põe a Santa Raínha todos os anos ao Espírito Santo, para que Deus, havendo um só pastor e um só rebanho, estabeleça, em cumprimento da sua promessa, na coroa portuguesa, o império universal do mundo".
3. Símbolo
O culto do Divino Espírito Santo sob a forma de Império é expressão exclusiva do mundo lusíada (nos Açores e no Brasil conserva ainda a fidelidade às origens) não tendo qualquer similitude com as devoções homónimas que existem por todo o restante universo católico. A principal cerimónia da Função Folia ou Império, consistia, salvo ligeiras variantes regionais, na coroação com três coroas, uma imperial e duas reais, do Menino Imperador assessorado por dois Reis - um homem jovem e outro idoso -, respectivamente na razão das idades do Espírito Santo, do Filho e do Pai. O Menino, símbolo da humanidade espiritualmente renovada e religada às verdades fundamentais da pobreza evangélica e do amor fraterno, empunhava o ceptro, com que tocando a fronte se significava a benção do divino, e após ter recebido as homenagens do povo e das autoridades civis, militares e religiosas procedia à libertação dos presos, concluindo os festejos com um bodo servido a todos independentemente da sua condição social e constituído por um repasto confeccionado com a carne dos bois previamente corridos, pão, vinho e arroz doce. O Império do Divino Espírito Santo é, efectivamente, a representação simbólica do advento da Terceira Idade do mundo, numa espécie de Pentecostes nacional, de acordo com a consabida tese que se pode buscar no cisterciense Joaquim de Fiore e nos meios joaquimitas e segundo a qual a história da humanidade percorreria desda a Criação até ao Fim do Mundo três Tempos, vividos cada um sob a influência de uma das três pessoas da Trindade. Assim, a lei mosaica foi própria da Idade do Pai, a lei evangélica da do Filho e a futura lei do Evangelho Eterno sê-lo-á da do Espírito Santo. O esgotamento da 2ª Idade ou do Filho prenunciará o início do Tempo do Divino Paracleto, era de confraternização universal de cujo advento os portugueses se fizeram arautos, disseminando pelas novas latitudes essas expectativas milenaristas, porém nem sempre da forma mais ortodoxa e conforme aos dogmas romanos. Esse o móbil da perseguição de que os festejos passaram a ser alvo a partir do séc. XVI, nunca o carácter pagão então invocado pela hierarquia eclesiástica e mais tarde pela etnografia arregimentada para mascarar os autênticos motivos. Cada um desses períodos históricos encarnando personalidade própria estaria na origem de diferentes formas religiosas, manifestadas sucessivamente de Oriente para Ocidente. A sede da Igreja do Pai fora Jerusalém, a do Filho, Roma. A Terra Santa vindoura onde situá-la? "Nova Roma" chamou Camões a Lisboa.
De Mafra se diz que pelo menos durante um dia há-de ser Roma. Seja como for, os iniciados na doutrina dos espirituais franciscanos identificavam-na com Alenquer. Segundo eles essa era a povoação portuguesa que maiores semelhanças tirava de Jerusalém, a qual constitui no círculo judaico-cristão-islâmico o modelo paradigmático da Cidade Santa, a imagem representativa da teofania, i.e., da revelação divina, daí a primazia dada a Alenquer - curiosamente vizinha de Meca - como pólo da religião nacional.
2 Comments:
lol
ESTE ANO VAI SER A FESTA DOS MANDA CHUVAS::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
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