sexta-feira, julho 13, 2007

Septuagenária preocupada com a última morada

Com o medo que chegada a hora da sua morte, ninguém fosse capaz de lhe colocar uma campa e de a venerar, Palmira Celestre Barbas Correia achou por bem comprar um terreno no . . . cemitério de Penalva de Alva, colocar uma campa com a sua fotografia e até de, hora em quando, lá colocar flores. "À memória de D.ª Palmira Celestre Barbas Correia. Paz a sua alma". Numa primeira leitura nada de anormal, trata-se de uma vulgar inscrição das muitas que constam nas lápides do cemitério de Penalva de Alva. A inexistência da data de nascimento e de falecimento da suposta defunta é que chama a atenção de quem num simples olhar se apercebe da falta dessa informação que, tal como a fotografia, costumam acompanhar aquela inscrição. De mármore branco já esbatido por força do calor e do gelo, na campa de Palmira Celestre Barbas Correia – situada no lado esquerdo, logo à entrada do cemitério – não faltam flores de veneração à senhora que, ainda não se sabe quando, há-de um dia naquele local ser sepultada. É que Palmira Celestre ainda está viva e de boa saúde, não passasse ela ainda os dias a trabalhar na agricultura e a cuidar dos animais. Na freguesia não há quem desconheça o caso, mas já se falou mais que agora. Contam habitantes da freguesia que a campa de Palmira Celestre aguarda pelo seu falecimento há mais de 15 anos, o que é facilmente comprovado pela fotografia da lápide que dá ares de uma senhora de meia-idade e não de uma septuagenária. "A alma que ainda cá anda". Já toda a gente viu e quem apenas ouviu falar não perde a oportunidade de, numa visita ao cemitério de Penalva de Alva, dar uma espreitadela na campa "daquela que ainda está viva". À primeira vista surgem dúvidas porque uma outra lápide foi lá colocada, recentemente, com uma inscrição relativa ao falecimento da irmã de Palmira Celestre que foi ali sepultada com a sua autorização. Mas, conta quem viu que, ainda antes do falecimento da irmã, a dona Palmira colocava flores na sua própria campa. Muitas vezes interpelada por populares sobre o porquê de tal atitude, a senhora dá sempre a mesma justificação: "quando morrer não sei se alguém me vai lá pôr flores". Terá sido também este motivo que a levou a, aquando da morte do marido, comprar o terreno no cemitério e a colocar lá uma campa, com fotografia e respectiva inscrição. "Ela disse-me que fez isto, porque um dia mais tarde ninguém lhe punha lá nada". Alice Campos, habitante de Penalva de Alva que conhece bem Palmira Celestre e alguns episódios da sua vida. De acordo com alguns relatos de populares, a dita senhora casou com um senhor viúvo que tinha já três filhos. O marido morreu já lá vão mais de 15 anos e do casamento não houve filhos. Apenas com mais dois irmãos, Palmira Celestre não tinha mais nenhum familiar com o seu próprio sangue. Receosa de que um dia, na hora da sua morte, ninguém a venerasse e que, por isso, nem uma campa lhe colocassem, decidiu comprar um terreno no cemitério para lá ser sepultada. Esta é, de resto, já uma prática habitual entre o comum dos mortais, o mesmo não acontece com a decisão de lá colocar a campa com a inscrição "À memória de Dª Palmira Celestre Barbas Correia. Paz à sua alma". "A alma que ainda cá anda", gracejou uma habitante local, sublinhando que a senhora "até é uma pessoa ilustre" porque – como disse – "até põe o «Dona» antes do nome". "Ela até teve juízo", disse a mesma senhora que preferiu remeter-se ao anonimato. "Acho engraçado e dou-lhe razão porque, se calhar, quando morresse ninguém lhe punha lá nada", disse António Garcia, conhecido de Palmira Celestre. O presidente da Junta de Freguesia de Penalva de Alva disse ter conhecimento do caso, embora não saiba ao certo de quem se trata, porque os procedimentos foram desencadeados muito antes de ele ter sido eleito presidente de Junta. António Brito referiu que a compra de terrenos no cemitério é habitual, mas que é a primeira vez que alguém coloca uma campa com a respectiva fotografia e vai frequentemente ornamentá-la com flores.

3 Comments:

Blogger O Anfitrião said...

Uns Morrem outros ficam assim

15:54:00  
Anonymous Anónimo said...

Grande maluca

16:26:00  
Blogger antoniodepenalva said...

Não é nada maluca nao senhor. Eu conheço a srª. Celeste, filha da tia Maria Bispa do Soito Concelho.
Podemos dizer que a sua decisão será um pouco excentrica.
Mas,se não fosse assim quem é que falava na senhora?
É preciso é que falem em nós, às vezes nem que seja mal.
Pena é quando ninguem fala em nós...

18:19:00  

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