Pinheiro e eucalipto: caminhos para actualização de atitudes
Pinheiro e eucalipto: caminhos para actualização de atitudes e posições no movimento ambientalista
Haverá pouca gente que sinta um misto de amizade, gratidão e admiração pelo Dr. Paiva tão profundo como eu. Além das qualidades humanas e da generosidade como activista pela causa ambiental, admiro no Dr. Paiva o saber botânico e o trabalho Científico que produziu, e produz, nesta ciência em Portugal (para quem não sabe, o Dr. Paiva é editor de alguns dos volumes da Flora Iberica, talvez a mais prestigiosa obra de taxonomia botânica Europeia pós Flora Europaea). Alguém tão perseguido pelos seus pares por delito de opinião como o Dr. Paiva entende que as suas posições públicas estão sujeitas a um escrutínio atento e cuidadoso. Além do mais, o Dr. Paiva sabe que a sua opinião conta e, por isso, escreve com um evidente intuito de estimular a discussão e de abanar as mentes. Como ambos recusamos o beija-mão das ideias dominantes, julgo seria incorrecto para com ele e para com os leitores deste blogue não assumir a minha discordância com algumas das suas opiniões.O preâmbulo paleoecológico do artigo do Dr. Paiva foi já suficientemente dissecado [nota do blogue: este aspecto será abordado noutro "post"] . Por isso, vou focar a análise numa questão paralela ao texto do Dr. Paiva: é o pinheiro-bravo indígena de Portugal? Ser ou não ser autóctone faz toda a diferença porque condiciona a interpretação da acção dos serviços florestais durante o séc. XX. A informação paleoecológica disponível é peremptória, o Pinus pinaster é indígena de Portugal! Durante grande parte do Holocénico co-existiram no território português dois ecótipos distintos: um litoral e outro continental. O ecótipo litoral é indígena, pelo menos, dos sistemas dunares a norte da Figueira da Foz e das paleodunas sadenses. O ecótipo continental foi extinto pelo Homem através da acção combinada do encurtamento do ciclo de recorrência dos fogos, sobrexploração e poluição genética. Este ecótipo ocupava solos delgados, sobretudo em encostas de grande declive; possivelmente alternava nos mesmos espaços com Querci, num ciclo controlado pelo fogo. Lamentavelmente, as arborizações feitas no interior do país foram realizadas com o ecótipo litoral (a maioria dos sementões portugueses estão nas matas nacionais do centro-oeste) daí as fraquíssimas taxas de crescimento nos territórios mais mediterrânico-continentais (algo que ninguém sabia no início do séc. XX). Do ponto de vista técnico, as arborizações com Pinus estão correctamente justificadas no Plano de Povoamento Florestal (1938-1968) ou no "Reconhecimento dos baldios do continente", documentos, diga-se de enorme solidez e substância técnica. Está escrito que os Pinus actuariam como espécies pioneiras que, além de produzirem riqueza, abririam caminho aos Quercus e à reconstituição de fertilidades perdidas (reparem nos objectivos de emulação dos sistemas naturais). A ideologia subjacente aos planos de arborização era simples: produzir riqueza e restaurar a fertilidade do solo num país pobre, sobrepovoado e sem recursos naturais, profundamente degradado pelo Homem, de fraca aptidão agrícola e com uma enorme falta de matérias lenhosos. Os objectivos de produção de riqueza e de restauração ecológica foram cumpridos enquanto as premissas sociais dos planos de arborização i.e., as características dos sistemas sociais não se alteraram. No meu entender, é injusto apontar um dedo acusador aos idealizadores do Plano de Povoamento Florestal porque este dificilmente podiam prever que o fogo acabaria por atrasar os objectivos de criar um Portugal mais produtivo, e que seria o abandono a abrir caminho aos Querci. De facto, para já não falar nos sistemas de preços e no controlo estatal dos mercados, os sistemas sociais nas sociedades modernas mudam a um taxa francamente superior à duração do ciclo biológico das árvores: por isso é tão difícil planear a floresta. A conclusão avançada pelo Dr. Paiva " ... pinhais e eucaliptais contínuos, os incêndios florestais tornaram-se não só frequentes, como também incontroláveis. Desta maneira, o nosso país tem já algumas montanhas transformadas em zonas desérticas" necessita de ser clarificada. Na realidade, as montanhas e outras áreas marginais onde o pinheiro (e o eucalipto) têm baixos crescimentos anuais e são pouco rendáveis, utilizando a metáfora do deserto, voltaram a ser o "deserto" que eram. Portanto, a crítica maior às arborização em áreas marginais, concretamente de montanha, tanto de Pinus como de Eucalyptus, não é uma hipotética degradação do território mais sim o enorme desperdício de recursos públicos e privados para tudo ficar na mesma, i.e., um mau investimento da riqueza num país pobre.
de Carlos Aguiar
Haverá pouca gente que sinta um misto de amizade, gratidão e admiração pelo Dr. Paiva tão profundo como eu. Além das qualidades humanas e da generosidade como activista pela causa ambiental, admiro no Dr. Paiva o saber botânico e o trabalho Científico que produziu, e produz, nesta ciência em Portugal (para quem não sabe, o Dr. Paiva é editor de alguns dos volumes da Flora Iberica, talvez a mais prestigiosa obra de taxonomia botânica Europeia pós Flora Europaea). Alguém tão perseguido pelos seus pares por delito de opinião como o Dr. Paiva entende que as suas posições públicas estão sujeitas a um escrutínio atento e cuidadoso. Além do mais, o Dr. Paiva sabe que a sua opinião conta e, por isso, escreve com um evidente intuito de estimular a discussão e de abanar as mentes. Como ambos recusamos o beija-mão das ideias dominantes, julgo seria incorrecto para com ele e para com os leitores deste blogue não assumir a minha discordância com algumas das suas opiniões.O preâmbulo paleoecológico do artigo do Dr. Paiva foi já suficientemente dissecado [nota do blogue: este aspecto será abordado noutro "post"] . Por isso, vou focar a análise numa questão paralela ao texto do Dr. Paiva: é o pinheiro-bravo indígena de Portugal? Ser ou não ser autóctone faz toda a diferença porque condiciona a interpretação da acção dos serviços florestais durante o séc. XX. A informação paleoecológica disponível é peremptória, o Pinus pinaster é indígena de Portugal! Durante grande parte do Holocénico co-existiram no território português dois ecótipos distintos: um litoral e outro continental. O ecótipo litoral é indígena, pelo menos, dos sistemas dunares a norte da Figueira da Foz e das paleodunas sadenses. O ecótipo continental foi extinto pelo Homem através da acção combinada do encurtamento do ciclo de recorrência dos fogos, sobrexploração e poluição genética. Este ecótipo ocupava solos delgados, sobretudo em encostas de grande declive; possivelmente alternava nos mesmos espaços com Querci, num ciclo controlado pelo fogo. Lamentavelmente, as arborizações feitas no interior do país foram realizadas com o ecótipo litoral (a maioria dos sementões portugueses estão nas matas nacionais do centro-oeste) daí as fraquíssimas taxas de crescimento nos territórios mais mediterrânico-continentais (algo que ninguém sabia no início do séc. XX). Do ponto de vista técnico, as arborizações com Pinus estão correctamente justificadas no Plano de Povoamento Florestal (1938-1968) ou no "Reconhecimento dos baldios do continente", documentos, diga-se de enorme solidez e substância técnica. Está escrito que os Pinus actuariam como espécies pioneiras que, além de produzirem riqueza, abririam caminho aos Quercus e à reconstituição de fertilidades perdidas (reparem nos objectivos de emulação dos sistemas naturais). A ideologia subjacente aos planos de arborização era simples: produzir riqueza e restaurar a fertilidade do solo num país pobre, sobrepovoado e sem recursos naturais, profundamente degradado pelo Homem, de fraca aptidão agrícola e com uma enorme falta de matérias lenhosos. Os objectivos de produção de riqueza e de restauração ecológica foram cumpridos enquanto as premissas sociais dos planos de arborização i.e., as características dos sistemas sociais não se alteraram. No meu entender, é injusto apontar um dedo acusador aos idealizadores do Plano de Povoamento Florestal porque este dificilmente podiam prever que o fogo acabaria por atrasar os objectivos de criar um Portugal mais produtivo, e que seria o abandono a abrir caminho aos Querci. De facto, para já não falar nos sistemas de preços e no controlo estatal dos mercados, os sistemas sociais nas sociedades modernas mudam a um taxa francamente superior à duração do ciclo biológico das árvores: por isso é tão difícil planear a floresta. A conclusão avançada pelo Dr. Paiva " ... pinhais e eucaliptais contínuos, os incêndios florestais tornaram-se não só frequentes, como também incontroláveis. Desta maneira, o nosso país tem já algumas montanhas transformadas em zonas desérticas" necessita de ser clarificada. Na realidade, as montanhas e outras áreas marginais onde o pinheiro (e o eucalipto) têm baixos crescimentos anuais e são pouco rendáveis, utilizando a metáfora do deserto, voltaram a ser o "deserto" que eram. Portanto, a crítica maior às arborização em áreas marginais, concretamente de montanha, tanto de Pinus como de Eucalyptus, não é uma hipotética degradação do território mais sim o enorme desperdício de recursos públicos e privados para tudo ficar na mesma, i.e., um mau investimento da riqueza num país pobre.
de Carlos Aguiar
7 Comments:
Este fim de semana houve um passeio de motas e de jipes pelas nosssas estradas de terra, onde eles colocaram fitas amarelas para demarcarem os trilhos e nao as retiraram no fim do trilho.
Mas a dezenas de fitas de agora e de antens,estas de agora nao vao passar impunes porque ja imformamos as autoridades competentes.
Espero pela retirada das fitas .
Mas esses jipes eram de sao martinho da cortiça
Mas incomoda mais os madeireiros que estragam as estradas e nunca mais aparecem a repara-las. A esses é que deviam pedir responsabilidades, ou pedir uma licença que pagasse os prejuizos que causam.
tambem causam prejuizos aos donos de terrenos.
É tudo nosso.Só se vê madeira empilhada e a ocupar as estradas e não limpam as matas.Depois a responsabilidade ainda vai ser dos donos dos terrenos.
Mas o que anda a fazer a Guarda Florestal? Vão é beber uns pucaros em casa dos cortadores de madeira ca da terra.
Ate dizem que o mel é muito bom criado nos terrenos dos outros. Que descaramento
mas esses gajaos k tao ai a morder aviam de ter as fitas toadas em casa deles a porta era um bom cartao de vizita ser porcos
mas esse passeio foi organizado pelo pessoal dos jipes de sao martinho
VOCES AÍ Ñ POLUEM MAIS?!!
TEM A CABEÇA TODA POLUIDA
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