segunda-feira, dezembro 22, 2014

Em Belém do Pará, Praças são Espaços de Arte e Boemia

Estar ao ar livre faz parte do gosto popular paraense, por isso as praças sempre atraíram jovens e boêmios e agora considerados como espaços a serem ocupados com boa música e outras formas de arte. Em Belém, duas se destacam, uma mais antiga e outra que também já vai contando alguns aninhos e fazendo parte das fotografias e memórias de muita gente lusa que por ali trabalhou: a Praça do Carmo e a Praça Ferro de Engomar. Nelas, encontramos gente que fincou os pés na grama e dela não deseja sair.
Um samba dos anos 1960 está a tocar em volume agradável, o necessário para apreciar a música enquanto se bate um papo. O nome está na placa de entrada, chama-se “Nosso Recanto”, mas é ignorado. Bom mesmo é chamar “Bar do Salomão”, que é o nome do dono, mas acabou sendo adoptado pelos seus frequentadores como forma de se referir também ao bar de mesinhas e cadeiras de madeira histórica na Praça do Carmo.
Em 1977, o senhor Salomão começou o bar no espaço aonde hoje funciona o Fórum Landi. “São 37 anos”, diz ele. Na época, os ritmos mais tocados eram o bolero e o samba. O público era composto por boêmios e pescadores. Quando o bar caminhou para a casa vizinha de número 24, na Rua Siqueira Mendes, entre a Vila Dom Bosco e a Travessa Joaquim Távora, já era o ano de 1985.
“Ainda tinham alguns pescadores que frequentavam quando eu me mudei. Mas em 1993, quando a pesca foi levada para Icoaraci, já veio outro tipo de freguês”, conta Salomão Casseb, o proprietário. Sua recepção então sofreu algumas mudanças, pois é ele quem seleciona músicas de sua própria coleção de vinis para embalar a conversa dos clientes, regadas também a bolinho de bacalhau, ao famoso camarão empanado e caipirinha.
O repertório do bar passou a incluir mais MPB junto ao bolero. “Tem alguns clientes que sempre vêm e pedem música antiga. O pessoal da boemia como vem aqui... O dia de maior movimento é a sexta-feira e o domingo à tarde”, avisa. Dos artistas que costumam estar no bar e fazer pedidos, o sr. Salomão cita Oswaldo Bezerra, “o rei do brega”. “Ele sempre anima a casa”, comenta.
Tudo é bem aprovado por quem frequenta, desde quem vem de longe a quem mora ali pertinho. “Gosto muito, principalmente por ficar no coração da Cidade Velha, centro histórico de Belém, a uns três quarteirões de casa”, brinca o administrador Thiago Ramos.
“Um lugar bom para estar com os amigos, beber uma cerveja e ouvir algum clássico da música. Sr. Salomão sempre surge com alguma pérola da MPB. Além disso, tem algo de sentimental estar-se num lugar tão cheio de história”, descreve.
Há sete anos, o pessoal do Fórum Landi também deixou para sr. Salomão alguns quadros para compor o cenário do bar que se integra à história da Praça do Carmo. “Até hoje eles são admirados por turistas, são fotografados por quem vem aqui pela primeira vez”, conta Salomão. Cada quadro retrata uma lenda do bairro e, principalmente, da praça. O dono do bar conta como seu favorito, o que tem um sacristão pondo vários meninos  fora da igreja.
“Quando a gente era moleque – eu moro aqui desde 1956 –, ia até a igreja de Santo Alexandre direto. A gente queria entrar para ver se era verdade o boato de que uma garota levantou uma vassoura para bater na mãe e virou pedra. Diziam que ela estava lá no alto, então a gente ia tentar subir lá, mas o sacristão não deixava. Aí fizeram esse quadro em homenagem a isso”, ele ri ao lembrar. Enquanto isso, de dentro do bar, vem o som de um bolero.